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quinta-feira, 17 de junho de 2010

PITBULL



Um encontro com o cão

Ao retornar da casa de minha avó por volta das 21hs, numa noite fria do inverno brasileiro, caminhava sossegado pelas ruas tranqüilas entre os bairros Cidade Nova e Bela Vista aqui na cidade de Rio Claro sem qualquer preocupação e bem pensativo, olhando para o céu estrelado. Como de costume, eu percorria o mesmo trajeto tanto na ida quanto na volta, passando por ruas vazias devido ao friozinho da noite.
Conversando com meus botões, pensava em minha vida até aquele momento, nos fatos cotidianos atuais e ao mesmo tempo fazia planos para o meu futuro, distraindo-me com tudo e com quase ninguém que se atrevia a caminhar pelo passeio público rio-clarense, observando a paisagem urbana deste meu interior, que naquela altura da noite, ganhara uma fotografia absolutamente distorcida daquela que temos sob a luz do dia; e jamais esperei ser encontrado pela criatura que surgiu do meio do nada, surpreendendo-me inesperadamente, quando ingressei numa rua tranqüila, arborizada e escura, porém sombriamente sinistra e deserta.
Ao chegar ao meio da quadra, notei a presença de um ser quadrúpede de cor escura vindo em minha direção, saltando do meio da escuridão como se ultrapassasse uma fenda ou um portal dentre os dois mundos, brotando espontaneamente. Sobre a luz do luar, logo o identifiquei. Era um cachorrão já adulto da raça American Standfordshire Pitt Bull Terrier, coincidentemente um cão da mesma raça que a minha doce e meiga Pitty lá de casa.
Gelei naquele instante da partícula do segundo entre a percepção da imagem da criatura através de um olhar de soslaio que dei e do toque de seu focinho gelado e úmido no meio do meu braço direito, ao mesmo tempo em que ouvi uma breve bufada e sua longa fungada em mim: Wolf, wolf, wolf....
Pensei que morreria ali ou ao menos que ficaria dilacerado e hospitalizado por um bom tempo. Apelei imediatamente ao meu anjo da guarda, suplicando também a DEUS para que nada de mal pudesse me ocorrer. No mesmo lapso de tempo percebi que havia uma pedra de tamanho razoável do lado esquerdo da rua e em ultimo caso ela me serviria de arma em minha defesa na lutar contra a fera bestial que se apresentava a mim naquele instante.
Em situações de perigo, de certa forma, toda a nossa vida passa diante de nós em poucos segundos, minha mente navegava em alta velocidade, fiz download instantâneo de minhas emoções e suposições: “ficaria sem o meu braço ou com ele todo moído”. Nesse momento não encontrei outra explicação de como me mantive tão sereno e tranqüilo ao lado daquele cavalo carnívoro e tenebroso, a não ser pela força que minhas orações me deram, senti que meu anjo da guarda estava ali me guiando com total segurança e zelo, tirando-me dali sem que eu sofresse qualquer mal.
Enquanto rezava e caminhava suavemente dentre a penumbra do meu caminho, não avistei nem ouvi uma só alma viva que pudesse me socorrer. Fiquei a pensar com os meus botões, como um cachorro dessa raça e desse porte pode transitar livremente pelas ruas de uma cidade e ainda mais desacompanhado de seu dono. Seria ele emancipado?
Após caminhar por quatro quadras em total procissão feroz, tomei da coragem ali presente e olhei para trás. Nada avistei além de uma rua plenamente vazia e silenciosa, virei para frente novamente e segui meu caminho cada vez mais rápido, até que cheguei a minha casa. Seria este cachorro um fantasma que fora enviado para testar minha fé ou apenas uma obra do acaso bem sem graça?
De qualquer forma, este tipo de experiência se aproxima de um renascimento pré-morte, onde tais ocorrências servissem de alerta para darmos o devido valor e importância às pessoas e ações que cometemos enquanto vivos, passando pelas provas que enfrentamos nas expiações a que somos postos a prova durante toda a nossa vida aqui na Terra.


David L. Ferreira
Agosto 2006

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