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quinta-feira, 17 de junho de 2010

Transporte escolar universitário ilário




Embarque às 18h30min


Durante oito meses, de segunda à sexta-feira, eu embarcava no transporte escolar do Lúcio, uma perua adaptada para o transporte de até oito passageiros adultos, com destino à faculdade particular onde eu estudava. Lúcio tinha por volta dos seus quarenta e poucos anos, um homem de estatura mediana, entre um metro e oitenta a um metro e oitenta e três, gostava muito de jogar futebol e sempre estava de bom humor. É pai de dois jovens garotos, um de quatorze anos e outro de onze anos, casado com uma professora de ensino fundamental, que leciona numa escola particular desta cidade interiorana.
Sua esposa, Andréia, sempre que possível o acompanhava na jornada diária neste período em que ele nos transportava, quando ela não podia ir, uma irmã do Lúcio ou um de seus filhos o acompanhava. Éramos oito estudantes universitários: eu, Andrei, Cláudia, Marta, Sueli, Solange, Paula e Thiago.
Aparentemente éramos um grupo de estudantes comuns, mas que não sobreviveríamos juntos por muito tempo em qualquer outro ambiente, onde o tempo ultrapassasse aos quinze minutos de trajeto em que permanecíamos juntos, como por exemplo, em um treinamento isolado em uma floresta selvagem ou mesmo se fossemos inseridos e confinados numa casa de um programa do gênero Reality Show. Escondam as facas Por Favor! Olha a faca!
Todos nós somos dotados de uma personalidade heterogênica e mesmo que em alguns aspectos pudéssemos nos parecer, nossas diferenças eram bem mais marcantes e distintas, quase impossíveis de passarem totalmente despercebidas. Eu era o primeiro a embarcar e o último a desembarcar, isso devido a localização do bairro onde moro e ao trajeto pré-estabelecido pelo tutor do transporte.
Em seguida embarcavam Cláudia, Marta, Andrei, Thiago, Paula e por último, Solange. Esta era uma senhora com seus cinqüenta e poucos anos, ou até mais - quem sabe, professora já formada em magistério e que leciona no mesmo colégio particular de Ensino Fundamental onde Andréia trabalha. Ela está no quarto e ultimo ano do seu curso de Letras.
Em meu primeiro dia como passageiro fui advertido e alertado pelos outros passageiros que ela gostava muito de conversar. Por isso pediram para que eu nunca iniciasse uma conversa com ela cujo assunto poderia se prolongar e assim que estivéssemos perto de sua casa, nos calássemos mesmo que o assunto não estivesse morto, caso contrário ela poderia ficar falando por algum tempo, atrasando nosso regresso pra casa. Aff! Mas que sono! Particularmente achei um exagero por parte deles, pois tive a oportunidade de conversar com ela e sei que essa senhora é muito agradável. Mas como a maioria ali era bem mais jovem do que ela, esse apontamento foi corriqueiramente normal.
Paula ou “magrela”, era uma passageira de voz estritamente estridente e por algum motivo que desconheço, nunca fui com a cara dela ou não tive oportunidade para conhecê-la melhor. Será que teria sido diferente? Logo após nossas férias de Julho, ela nos deixou e por motivos particulares passou a ir para a faculdade de carona com uma de suas amigas. Em seu lugar entrou Daniela, conhecida e moradora no mesmo bairro em que Marta e Claudia residem.
Mas esta, por motivos de força maior e da gravidade da Terra, devido ao excesso de massa corpórea, despencou da cadeira que ocupava em seu trabalho por duas vezes, ficando afastado tempo suficiente para decidir trancar a faculdade e retornar no ano seguinte, quando já estará plenamente recuperada; e quem sabe até mesmo mais magra. Que abuso da minha parte!
Voltando a ex-passageira “magrela” e com voz de taquara rachada, ela era insuportável, sabíamos de todo o seu presente, passado e dos planos para o futuro em sua vida, naquele curto espaço de tempo do trajeto para a faculdade; “chata” era apelido para a senhorita “Olívia Palito” e sem Popeye nem Brutos para disputá-la. Pelo menos se estivesse amando, seria mais dócil. Eu acho! Será?
E como a desgraça nunca vem sozinha e tem sempre companhia, o ainda infante passageiro, Thiago, era proprietário de uma voz ainda de gênero indefinido, que somada a da magrela formava o som mais irritante que já tive o desprazer de ouvir. Felizmente para mim, ele quase sempre estava de péssimo humor, entrava rápido no transporte, nos cumprimentava rapidamente e em seguida calava sua matraca para a minha alegria, satisfação e paz de espírito. Meus tímpanos agradeciam!
Porém, ele era o problema mais grave que tínhamos dentro do transporte do Lúcio. Como ele ainda está saindo da adolescência com os seus dezoito ou dezenove anos, quando sua aula terminava mais cedo, ele queimava asfalto e ao invés de nos avisar na faculdade ou ligar para o Lúcio, simplesmente ia embora. Por várias vezes nos deixou plantados feitos palhaços sem picadeiro até o último minuto da hora combinada para a saída do transporte, no qual decide ligar para o celular do Lúcio e já em sua casa com a maior cara de pau, diz que se esqueceu de ligar mais cedo. É mesmo um jovem idoso e esquecido o pobre coitado.
Boca suja e palavrões, dentro do transporte não faltavam não. Com Sueli e Marta, tudo era festa e gozação. Que palhaçada descabida.

Dossiê Matracas de fogo: 1. Sueli, 2. Marta;

1. Sueli: mulher de baixa estatura e com sangue nas veias, senhora casada de respeito, jovem mãe de uma linda menina de três anos, estudante de direito, secretária em um escritório jurídico e consultora de produtos de beleza. Para falar com ela era necessário ter bons argumentos na manga, embasamento e conhecimento do que se estava falando, caso contrário ela fazia objeções e protestava, mudando o conteúdo e o rumo do que já fora citado em depoimentos anteriores. Caso encerrado! Próximo caso em andamento.
2. Marta: mulher de estatura mediana e também com sangue nas veias, solteira, trabalhadora e impulsiva. Luta por seus direitos e pelo que quer, porém utiliza palavras chulas e de baixo calão, que possivelmente saem de sua boca sem pensar, mas que cabem bem nas circunstâncias nas quais as mesmas são pronunciadas, sem medir muito as conseqüências, o lugar ou mesmo o seu destinatário. Seu olhar era feroz e afiado feito navalha.
O mundo é um circo, um picadeiro com grandes palhaços, uma peça encenada conforme convêm a grandes e a pequenos atores, de acordo com os atos das peças onde eles queiram contracenar. Bravo! Bravo! Bravíssimo!
Outro infante ainda verde, com papel a definir, Andrei é um menino que quer se descobrir. Diz que foi o que não é, mas parece reluzir, o gracejo que outrora, quando pensava ser menina manhosa. Este garoto tem vinte anos, trabalha para um jornal local, exerce cargo de “jornalista” e de “fotógrafo” e coisa e tal.
O trabalho enobrece o homem e provém o sustento de seu lar, mas trabalhar além da conta só traz prejuízos a sua saúde mental. Assim é Claudia, uma moça que trabalha de mais da conta, faz além de suas obrigações na fábrica de roupas onde trabalha e por isso todo dia tinha sempre de quem e do que reclamar. Foram idas e vindas sem cessar, reclamava e reclamava sem parar. Parecia um disco riscado sempre a rodar na vitrola de sua vida.
Não sou perfeito e tenho noção disto, tenho muitos defeitos a corrigir e muito ainda o que aprender, mas o que eu mais não suporto em mim, é a vontade espontânea de ajudar qualquer pessoa e até mesmo àqueles que me querem ou fizeram mal. Gosto de observar os defeitos das outras pessoas e reconhecê-los em mim, desta forma poderei corrigir-me e ajudar aos que querem ser ajudados.
Isso poderá me prejudicar também, como já ocorreu antes, mas esta é uma Terra de espiação e evolução, por isso estamos aprendendo com nossos erros e com os erros dos outros, para o beneficio de todas as almas aqui presentes. Façamos o bem sem olhar a quem, perdoemos os nossos ditos inimigos. Seguiremos nas veredas que escolhermos, colhendo os frutos das sementes que outrora semeamos e plantamos.
"Amai vossos inimigos, fazei bem àqueles que vos desejam o mal. Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso." (Lc 6, 31-36).

David Lorenzon Ferreira

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